29.6.07

Fidelino de Figueiredo


"A história que se ensina e que baseia a governação e os comentários jornalísticos, outrora matéria oficial dos cronistas régios e ainda hoje departamento predilecto da erudição académica, está para a história integral como a espuma suja da superfície para as fermentações de um líquido (...): uma parte, e parte miserável, de um nobre conjunto.(...) A história integral possui outro plano oculto, o da subterrânea acção criadora - subterrânea como a das raízes daquele arvoredo que no Outono se despiu das suas frondas que lhe sobem das ocultas raízes. A essa história enganosa e ruidosa da superfície opõe-se a verdadeira e silenciosa, a das fermentações profundas, a das raízes invisíveis, a infra-história - zona em que a inteligência estimulada por todos os anseios labuta, não pelo domínio do homem sobre o homem, sim pelo domínio do homem sobre a Terra, com toda a fenomenalidade que o envolve e todo o cenário do Cosmos que o defronta. Essa infra-história é que determina a agitação da história aparente. Assim a realidade profunda e invisível do mundo vibratório do átomo determina a aparência enganosa e bela do mundo empírico das sensações (...) como em boa verdade coexistem os dois mundos, o das sensações de perímetro humano e o da vibração atómica de perímetro universal, assim coexistem os dois planos da história, o da aparência superficial e o da realidade profunda."

in Entre Dois Universos, 1959, Fidelino de Figueiredo.


[acerca de Fidelino de Figueiredo, ler artigo de Carlo Leone aqui]


1 comentário:

Isabela Figueiredo disse...

Conheço mal Fidelino de Figueiredo. Não era um autor muito amado quando estudei na faculdade. Tive 4 cadeiras de história (nenhuma delas foi técnica), e não creio que ele fizesse parte da bibliografia essencial e obrigatória.
Este texto é muito interessante. Refere-se à história de uma forma que podemos usar para referir aquilo que consideramos a realidade. E que é, a um certo ponto, para a maioria, a realidade.