"E não foi a fundação dela sem grande mistério, porque estando Ulisses dormindo, apareceu-lhe Júpiter dizendo: - Ulisses, quão pouco te hão-de aproveitar teus trabalhos ordenados para a destruição de Tróia, pois no fim deles e dela, ficarás mais vencido que vencedor, que não se conta por vitória a que por engano e traição dos naturais se alcança (...) e os Troianos desbaratados e vencidos cobrarão gloriosa fama; porque da sua cidade sairá aquele, da geração do qual nascerá o fundador de Roma (...) e a vossa Grécia mui humilde será submetida debaixo de seus pés e porque a tua geração não fique com estas coisas abatida, faze o que te disser (...). Onde esta noite vires cair um sinal de fogo, ali fundarás uma cidade, a qual depois que a grã Roma desfalecer de seu senhorio perdendo nome de imperatriz crescerá em tamanho poder e alteza (...) será para ti maior louvor que quantas cousas no cerco de Tróia fizeres (...) Ulisses ao outro dia atinando onde vira cair o raio, foi dar com uma esfera lavrada em uma pedra da cor do mesmo fogo, e pelo zodíaco tinha umas letras que diziam: Sobre este fundamento seja posta a primeira pedra da minha cidade, porque outra tal figura como esta será sujeita a quem me tiver por cimento."
[Lima de Freitas, pintura sobre azulejo, estação do Rossio, Lisboa]
in Cronica do Imperador Clarimundo, João de Barros. 1521 [Nota: as expressões assinaladas a negrito aludem ao contexto político da época - João de Barros remete obviamente para a esfera armilar, tomada como empresa e sinal por D. Manuel]
o corpo estaua descuidado, com os sentidos presos, & a alma andaua cuidadosa, levantando, derrubando estatuas, fãtasiando Reynos, Monarquias. Mais fazia Nabucodonosor dormindo, que acordado: porque acordado cuidaua no gouerno de hũ Reyno, dormindo imaginaua na sucessão de quatro. Pois se Nabuco era Rey dos Assírios, quem o metia com o Imperio dos Persas, com o dos Gregos, com o dos Romanos? Quem? A obrigação do officio que tinha. Era Rey, quem quer conseruar o Reyno proprio hade sonhar com os estranhos.
António Vieira, in Serman do Esposo da May De Deos S. Joseph.
Toda a poesia - e a canção é uma poesia ajudada - reflecte o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste. O fado, porém, não é alegre nem triste. É um episódio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter força para o desejar. As almas fortes atribuem tudo ao Destino; só os fracos confiam na vontade própria, porque ela não existe.O fado é o cansaço da alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e também o abandonou.
3 comentários:
Estou lixada contigo! Preciso de uma pós-graduação qualquer para entender estes textos. Deixa-me lá ler outra vez...
"a qual depois que a grã Roma desfalecer de seu senhorio perdendo nome de imperatriz crescerá em tamanho poder e alteza" ????
"foi dar com uma esfera lavrada em uma pedra da cor do mesmo fogo
(...)
porque outra tal figura como esta será sujeita a quem me tiver por cimento."
???????
Uma esfera lavrada?
A esfera armilar?
Uma figura como esta será sujeita a quem construir sobre mim?
Lisboa???
Os alfacinhas???
Os tugas, Gibel? Olha que isto são os tugas, homem!
:-D
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